9.12.05

Tá russo.

Um fazendeiro russo sensível, digno, educado, honesto, com aspirações artísticas e capaz de se transformar em um monstro de aço orgânico capaz de arrancar sua cabeça com um peteleco e chutar uma betoneira até a lua! Como que um pré-adolescente como eu era pode não gostar do Colossus?

Sem contar que ele era o personagem com o poder mais confuso do grupo. Sempre elocubrei sobre isso, na minha juventude. Ele vira aço orgânico ou se cobre de aço orgânico? Como ele enxerga com suas pupilas transformadas em aço? Porque o cabelo dele se penteava automaticamente na transformação? Porque ele não usava um moicano punk, de modo que o cabelo virasse uma arma branca quando virasse metal? Eu tinha muito tempo livre.

Mas por uma dessas armadilhas do destino, a Marvel sempre teve um prazer perverso em destruir o personagem que eu amava. Primeiro fizeram ele perder o controle e matar alguns vilões. Depois mataram sua irmã pequena. Então, quando o personagem estava bem chateado, fizeram com que seu irmão mais velho se revelasse um mutante enlouquecido e cheio de maldade no coraçãozinho. Para finalizar fizeram com que Colossus se matasse para salvar a comunidade mutante de um virus idiota. Para finalizar não, porque estar morto seria muito fácil e as pessoas gostam é de sofrimento. Colossus foi ressucitado e mantido preso em um laboratório por vários anos, até que foi resgatado por seus amiguinhos e se reintegrou ao grupo. Meio caladão, mas até que razoavelmente são.



E aí chega Colossus: Bloodline, mini-série que tinha o dever de aprofundar um pouco mais o personagem. Mas o mundo das hqs de super-heróis não é conhecido por sua sutileza. Quando um editor manda um roteirista desenvolver mais um personagem ele geralmente quer uma história que mostre um passado negro, uma herança misteriosa, revelações sobre suas verdadeiras origens genealógicas, coisas do tipo. Editores de quadrinhos e produtores de novelas mexicanas são treinados nos mesmos campos secretos na Bolívia, para quem não sabe.

Na trama ele volta a Rússia para descobrir quem está assassinando membros de sua família. Aqueles que a Marvel ainda não tinha lembrado de matar para transforma-lo em uma pessoa mais amargurada. Porque personagens amargurados dão a impressão de serem ricos, complexos e bem escritos. Os leitores acham amargura muito sexy. Enfim, o russo vai pra lá, encontra sua prima, vão caçar o malfeitor. Dá-se um falatório sem fim durante 3 edições. Tudo isso para no fim, revelar um PASSADO NEGRO que traz uma HERANÇA MISTERIOSA e revela SUAS VERDADEIRAS ORIGENS GENEALÓGICAS. Não vou estragar a surpresa (oh!), mas só digo que no mundo dos super-heróis ninguém se chama Piotr Nikoleievitch RASPUTIN por nada. Sacos de vômito estão a disposição nos compartimentos a sua frente.

Nosso querido desenhista (esqueci o nome, mas ele não merece ser lembrado) varia incansávelmente entre um estilo realista claramente copiado de fotos de referência e um traço cartunesco mui estranho. Descubra nessas duas imagens abaixo qual é qual.





Mas o que me incomoda mesmo é que não bastando o roteiro repetir mil vezes que o Pedrinho tem uma fúria incontrolável presa nos recônditos mais distantes do seu ser, cada vez que ele fica nervoso aparece uma gororoba negra em seus olhos.



Sabe o que é isso, cavaquinho? Eu te digo. Isso é amargura. Achou sexy? Parece uma catarata. Ou ferrugem. Um pouco de WD-40 usado como colírio não vai incomodar ninguém.

Um comentário:

opiumseed disse...

Calma, cara.
No Ultimate X-Men o Colossus é Gay, isso torna o personagem menos amargurado. Ele e o Northstar estão se pegando.